Cozinha.
A imagem acima parece representar algo tão perdido no tempo que nos esquecemos de que há menos de 60 anos essa era a realidade na maioria dos lares e que ainda é em alguns.
Isso se dá pois a maioria de nós já nasceu em uma casa que tinha pelo menos três itens essenciais na cozinha.
Fogão, geladeira e pia.
O incrível é que, exceto por algumas atualizações nos eletrodomésticos, a cozinha em 2019 é praticamente a mesma de nossas avós.

Cozinha de 1942

Cozinha atual.
Os armários fechados armazenam alimentos com longos prazos de validade, geladeiras grandes guardam alimentos que se perdem esquecidos em suas gavetas e nas prateleiras mais baixas, as bancadas desorganizadas por uma infinidade de utensílios, eletrodomésticos, chaves e, atualmente, celulares, carregadores e coisas afins.
Essa cozinha desempenhou por muito tempo um único papel, produzir comida para a família.
Uma família composta pelo pai a mães e seus filhos.
Até a Segunda Guerra Mundial cabia ao pai o sustento dessa família e a mãe o cuidado com a casa, os filhos, a limpeza e a alimentação.
A cozinha continua a mesma, mas quanta diferença há entre os seus ocupantes.
Casais sem filhos, filhos morando só com um dos pais, casais com filhos de outros casamentos formando um novo grupo familiar, amigos que dividem a mesma casa, uniões poliafetivas… a cozinha continua a mesma, a família não mais.
Todos trabalham, todos tem obrigações com as atividades domésticas e a comida pronta para consumo se tornou fundamental na rotina de milhões de pessoas.
A velocidade dessas mudanças fez parecer, em determinado momento, que evoluiríamos para uma versão simplificada da família Jetsons.
Mas o que se está vendo é exatamente o contrário.
Isso?
Não é para tanto.
Após o boom do fast-food, da comida congelada e dos alimentos ultra processados o que se observa é um retorno ao passado.
Um passado revisitado a partir de todos os avanços tecnológicos que conquistamos e da realidade dos grandes centros urbanos em que vivemos.
Com moradias cada vez menores a cozinha voltou a ser o centro da casa,
Mas não a mesma cozinha.
A eliminação das paredes que dividiam a sala e a cozinha permitiu que o espaço ficasse menos fóbico e estimulou a interação entre os diversos integrantes do grupo familiar.
Essa integração faz com que essa cozinha sirva para prepararmos as refeições ao mesmo tempo que conversamos, vemos programas de TV, ouvimos música, podcast, trabalhamos em dispositivos fixos e móveis, acompanhamos a tarefa dos filhos… enfim, cozinha, sala, escritório, sala de TV, tudo em um único espaço de convívio.
Mas o foco principal dessa mudança está na busca cada vez mais perceptível de um novo padrão alimentar.
Estamos imersos em um oceano de informações que permeiam e mudam nosso estilo de vida.
Questões como a origem dos alimentos que consumimos, como foi cultivado e transportado, se é orgânico ou não, se os ovos são de galinhas soltas ou confinadas, o destino do lixo, o uso de plástico…
Que cozinha será essa que irá dar conta de toda essa “revolução” que envolve o que se cozinha, como se cozinha e onde se cozinha?
Veja o projeto da arquiteta Veronica Schreibeis, presidente da Iniciativa de Arquitetura de Bem-Estar do Instituto Global de Bem-Estar e CEO e fundadora da Vera Iconica Kitchen.
1. Os produtos frescos da fazenda e os alimentos cultivados em casa (ou seja, nos jardins das janelas) não têm embalagens para contribuir para aterros sanitários. Nenhuma embalagem significa que não há toxinas prejudiciais se infiltrando em nosso suprimento de alimentos. Os contêineres reutilizáveis para mercadorias a granel, bem como os serviços de entrega em domicílio, reduzem o desperdício de embalagens que, de outra forma, seriam enviadas para aterros.
2. Alimentos frescos e naturais têm pouco ou nenhum conservante, garantindo assim a vitalidade e promovendo a boa saúde. A colheita e a produção de alimentos em casa é possível e tem um impacto positivo.
3. Armários com temperatura controlada e umidade e água corrente mantêm os alimentos frescos vivos e ricos em nutrientes.
4. O armazenamento semelhante ao porão (escuro e fresco) para vegetais de raiz, maçãs e outros produtos da colheita permite que as mercadorias durem bem durante as próximas estações.
5. Ver visualmente os alimentos saudáveis disponíveis o leva a comer as opções frescas e nutritivas antes que pereçam.
6. Organização superior projetada para que alimentos perecíveis sejam facilmente visíveis.
7. A organização para água da louça, talheres e utensílios está abaixo do balcão em gavetas bem organizadas, projetadas cuidadosamente, levando em consideração a ergonomia adequada para mover itens pesados e ter acesso eficiente.
8. Dietas e refeições ricas em vegetais que utilizam ingredientes a granel levam a menos desperdício. O compactador de lixo é substituído por um compostador de lixo orgânico que produz adubo para hortas domesticas ou comunitárias.
9. A ilha é agora uma grande estação de preparação para várias pessoas, onde os alimentos podem ser preparados diretamente na superfície. A superfície pode ser lavada com facilidade e possui um dreno de vala central e calhas de borda inteligente que permitem uma limpeza fácil e rápida.
10. Um benefício adicional à saúde vem de conexões mais conscientes com nossos alimentos.
11. A conexão social é aprimorada por meio da preparação colaborativa de alimentos.
12. O sistema de filtragem de água é integrado à torneira / torneira de água primária para facilitar o acesso a água potável saudável.
13. Vários métodos de cozimento são incentivados. O fogo, a água e a cozinha do tipo fogão estão ao alcance, para adicionar sabor, nutrientes e influência cultural.
14. Coifas e exaustores tornam o ar limpo de oderes.
15. Uma garagem de eletrodomésticos esconde, mas mantém um acesso fácil, mantendo assim as superfícies organizadas. Juicers, Vitamix e misturadores de alta potência ajudam na preparação de alimentos sem matar enzimas valiosas.
16. Muita luz natural do dia filtra o espaço através de muitas janelas, ideal para apoiar sistemas de janelas e ritmos circadianos saudáveis.
17. Todo mundo é chef e todos contribuem para a preparação e servir as refeições.
18. Como coração da casa, várias opções de assentos, incluindo assentos informais junto à lareira, incentivam a reunião.
Mas algo mais vai acontecer nessa cozinha.
Imagine o seguinte diálogo:
– “Preciso de uma receita de pudim”
– “De qual site você gostaria da receita?
– “AllRecipes está ótimo. Temos leite o suficiente para a receita?”
– “Não'”
– “Então faça uma lista com os ingredientes da receita, acrescente os itens que vou ditar, mande o pedido ao supermercado e peça que entreguem as 17:00′”
– “Avise o fulano de que a entrega será feita e lembre a ele de fazer a tarefa.”
Um diálogo que nada tem de impossível, não é mesmo?
Não teria se um dos interlocutores não fosse uma geladeira que, além de tudo isso, mostra a receita em vídeo, toca música, dá recados, mostra seus compromisso e muitas outras coisas mais.
Ficção?
Não, é a nova geladeira da Samsung.
Sim, parece o fantástico mundo novo.
E não, não vivo no mundo da fantasia no qual a realidade de que muitas famílias brasileiras não tem dinheiro nem para comprar um bujão de gás não exista.
De que comunidades afastadas mantém a mesma rotina alimentar que seus antepassados, que essa cultura alimentar está sob risco devido ao consumo de alimentos industrializados que são entregues em suas portas pelas grandes corporações, que para muitos brasileiros o biscoito recheado é um símbolo de status e que o miojo é mais consumido do que a banana.
Como a Grande Indústria Viciou o Brasil em Junk Food. NYT
Que o uso abusivo de agrotóxicos em nossas plantações coloca em risco a saúde de nossos agricultores e que políticas de preservação de florestas e mananciais foram substituídas por um “Novo-velho” modelo de política ambiental.
Mais de 1 veneno por dia: Governo Bolsonaro libera 166 agrotóxicos em 4 meses por: Redação Hypeness
Mas esse é um blog que trata de assuntos de cozinha e essa evolução é um assunto mais do que pertinente.
Além disso, a melhor parte sobre conhecimento é que ele não pesa nem ocupa espaço.
Então, enquanto nossa realidade não muda, vamos aproveitar para aprender mais pois muitas dessas mudanças são possíveis de ser implementadas mesmo sem toda essa tecnologia.
Fontes:
Tendências Globais de Bem-Estar 2018
Como o bem-estar está redefinindo a maneira como usamos nossas cozinhas domésticas
Além de tudo isso que foi dito, a cozinha pode ser um elemento transformador da realidade acima descrita.
A cozinha como oportunidade de superação, a comida local, produzida a partir da cultura de cada comunidade, mostra seu valor.
Como?
Conheça a história do chef brasileiro Edson Leite sobre o poder da comida de enriquecer a vida dos desprivilegiado e dar a eles uma saída das favelas.
Só mais um pouco da sua paciência para algo que me ocorreu quando li sobre a super geladeira.
Ela me lembrou o livro 1984 de George Orwell, uma distopia moderna que deu origem ao termo “Big Brother”, O Grande Irmão e que nos últimos anos esteve em primeiro lugar entre os livros mais lidos no mundo.
Abraços sinceros, Sheila.
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