Microbiota? Vou usar uma metáfora que ajudará você a entender melhor.
Imagine um hotel. Agora coloque dentro desse hotel uma quantidade monumental de hóspedes que podem ser agrupados em duas categorias principais:
- ordeiros, colaborativos, limpos, empenhados na manutenção da qualidade do estabelecimento, ou seja aqueles que você gostaria de receber sempre.
- egoístas, desordeios, arruaceiros, capazes de qualquer coisa para garantir sua permanência e de seus filhos, netos, bisnetos…
Então imagine o café da manhã no seu hotel. Os dois grupos precisam comer.
Uns preferem um tipo de alimento e outros um tipo completamente oposto e cabe a você escolher o que irá servir.
O nome do hotel?
Micobiota, o lugar dentro de você onde seus “hóspedes” travam uma guerra que pode determinar se você está gordo ou macro, feliz ou triste, saudável ou doente, com dor ou não.
Toda a vez que comemos fortalecemos uma parceria inconsciente com milhões, ou melhor trilhões, de microorganismos dos quais dependemos para a digestão e absorção dos nutrientes presentes no alimento.
Não é algo optativo, é compulsório.
Somos na verdade o invólucro de uma monumental colônia de microorganismos que habitam desde nossa pele até nossas entranhas.1

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A última década trouxe, juntamente com a evolução tecnológica nas ferramentas e métodos para coletar e analisar dados de sequência de DNA, uma revolução no que diz respeito a compreensão do microbioma humano.
Sabia-se muito pouco sobre os tipos de microrganismos que habitam o corpo humano, como se agrupavam e como interagiam entre si e com nosso organismo.
Essa evolução tornou possível relacionar vários aspectos dessa grande “colônia” com um número surpreendente de doenças e a possibilidade de intervenção nesse mecanismo como uma possiblidade para restauração da saúde. 2
Sabe-se que,
“a microbiota humana é um ecossistema complexo, constituído por múltiplas espécies que interagem umas com as outras e com o hospedeiro, para gerar uma comunidade dinâmica. ” 3
Quem são esses “hóspedes”, quais suas funções no nosso corpo e de que forma eles influenciam nossa saúde, são questões sobre as quais cientistas do mundo todo tem se debruçado.
Sob a responsabilidade dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, uma grande equipe de cientistas está agora empenhada em criar um mapa do que pode ser considerado uma microbiota “saudável”.
O The NIH Human Microbiome Project é o epicentro desses estudos e tem como objetivos:
- Usar toda tecnologia disponível para identificar as diferentes características do microbioma de diversas partes do corpo de 250 voluntários.
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Determinar se existem associações entre mudanças no microbioma e a saúde ou doença desses indivíduos,
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Fornecer um banco de dados padronizado e novas abordagens tecnológicas para permitir que esses estudos sejam realizados amplamente na comunidade científica.
O objetivo final do projeto “é demonstrar que há oportunidades para melhorar a saúde humana através do monitoramento ou manipulação do microbioma humano”.
O que se sabe sobre esse que já é considerado um “órgão esquecido”?
Sim, cada indivíduo possui uma composição única de microorganismos e essa composição é determinada no momento de seu nascimento e se consolida até o terceiro ano de vida permanecendo estável até a terceira idade.
Explico melhor:
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A microbiota intestinal é fundamental para a digestão e absorção dos nutrientes dos alimentos. Uma parte da comida não é digerida ao sair do intestino delgado, a microbiota a fermenta dentro do intestino grosso (colón), onde a digestão é finalizada.
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Durante este processo de fermentação, gases e numerosos metabólitos são produzidos, incluindo ácidos graxos de cadeia curta, que representam um verdadeiro “combustível” para as células do cólon.
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O intestino enfrenta um importante desafio: manter as bactérias benéficas da microbiota em oposição bactérias perigosas, chamadas patógenos. A microbiota participa dessa função de barreira.
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As bactérias “boas” da microbiota lutam diretamente contra os patógenos para competir pelos mesmos nutrientes com uma diferença fundamental: bactérias benéficas se multiplicam se alimentando preferencialmente dos nutrientes de um tipo de alimento enquanto que bactérias que podem causar danos a sua saúde se preferem outros tipos de alimentos.
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Além disso, algumas bactérias liberam moléculas antimicrobianas contra patógenos.
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Finalmente, há outros que estimulam a produção de muco para proteger as células intestinais – lembrem que a maioria de nossos receptores de serotonina, o hormônio da felicidade – contra agressões e evitar efeitos prejudiciais ao organismo.1
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Estimulação do sistema imunológico: As bactérias da flora intestinal intervêm no equilíbrio do sistema auto imune protegendo o organismo das agressões de agentes patogênicos, como bactérias ou vírus.
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De fato, o intestino é o principal reservatório de células imunes no corpo. Por sua vez, o sistema imunológico influencia a composição e a diversidade da microbiota.
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A microbiota intestinal exerce uma grande influência no sistema digestivo, particularmente na espessura da mucosa intestinal, na produção de muco, na irrigação das células do intestino e na atividade enzimática da mucosa.
Sim, eu disse que essa “colônia”se mantinha estável até a terceira idade e de fato assim é.
A saúde/doença está implicada no equilíbrio da sua “colônia” ao longo da vida e na sua capacidade de manter os “mocinhos” mais bem alimentados que os “bandidos”.
Fontes
Unlocking the Secrets of the Microbiome
Que uma composição equilibrada de bactérias intestinais resulta em indivíduos mais saudáveis não há dúvidas, mas quais doenças podem ser associadas a um desequilíbrio desse ecossistema?
Primeiro vamos entender, um pouco, quem são essas bactérias ou melhor quais são os dois times que estão em campo:
Então vimos que esse “órgão esquecido” chamado de Microbiota Intestinal é composto por 10 vezes mais bactérias do que o número de células de nosso corpo, e que o equilíbrio dessa colônia de “hóspedes” é fundamental para a manutenção da nossa saúde.
Mas que fatores poderiam causar esse desequilíbrio, quais doenças podem surgir em decorrência dele e que medidas podemos tomar para prevenir e reverter esse quadro.
Assim, esse é o quadro que se desenha.
O estilo de vida do homem moderno levou a um desequilíbrio tanto de seu meio ambiente externo quanto interno.
Nosso meio ambiente é cada vez tanto mais poluído, quanto mais ascético.
Nossa alimentação é cada vez mais centrada em poucos ingredientes básicos, excessivamente refinados e altamente processados.
O uso indiscriminado de antibióticos colabora com a eliminação de diversidade de nossa microbiota e seu uso recorrente torna nosso organismo cada vez mais frágil e suscetível ao ataque de superbactérias.
Como reverter esse quadro?
Um dos pontos de partida dos pesquisadores tem sido a comparação da microbiota humana de populações com dietas bem distintas pois, em meio a todas as dúvidas que pairam sobre como esse refinado mecanismo funciona uma certeza já surgiu:
“os hábitos alimentares são considerados um dos principais fatores que contribuem para a diversidade da microbiota intestinal humana.” 4
Do período pré agrícola como caçadores/coletores até a domesticação dos animais e o advento da agricultura a história humana foi a da adaptação do nosso corpo àquilo que o meio ambiente oferecia.
A partir da Revolução Industrial esse quadro mudou drasticamente, não precisamos mais caçar, plantar, colher ou criar animais para garantir nossa sobrevivência.
A comida passou a ser disponível, farta e não exatamente diversificada e saudável e é do choque dessa nova realidade nutricional com um corpo que se adaptou durante milhares de anos a alimentos diversificados, a maioria “in natura”, pouco processado (moagem e cozimento) e não abundantes, que advém muitas das doenças modernas.
Se a ciência evoluiu no sentido de combater as doenças que tradicionalmente mais matavam como os vírus, as infecções e as doenças decorrentes do manuseio inadequado de alimentos e da falta de higiene, hoje temos doenças tidas como modernas, como a obesidade, as doenças autoimunes, as alergias, a diabetes e a hipertensão, por exemplo, que matam tanto quando as tradicionais e provocam um grande problema de saúde pública no mundo.
Vejamos quais as mudanças verificadas em nossa dieta que são a pista que os cientistas seguiram para chegar a conclusão de que essas mudanças dietética estão no cerne desse questão:
Agora você pode compreender o título do post: “você é também aquilo que alimenta”.
Mas se as implicações da dieta na sua saúde e na sua silhueta não é novidade para você, as relações que essa dieta tem com seus diversos hóspedes e as consequências dessa relação para sua saúde é uma algo realmente novo.
Quais as dietas que mais se alinham com as recomendações dos cientistas para manter o equilíbrio e a saúde de seu microbioma?
A Dieta Mediterrânea, a DASH, a Volumétrica e a de Baixo Índice Glicêmico.
Saiba mais sobre elas em:
7 DIETAS POPULARES, SEUS PRÓS, CONTRAS E O QUE A CIÊNCIA TEM A DIZER SOBRE ELAS
Sobre os riscos do uso indiscriminado de antibióticos para a saúde humana a Cozinha tratou nesse post:
SUPERBACTÉRIAS E O FRANGO NOSSO DE CADA DIA
Mas além de seguir as recomendações que nós já conhecemos, descobriu-se que alguns alimentos consumidos a milhares de anos pela humanidade tem um poder considerável no restabelecimento da flora intestinal.
São os probióticos, prebiótiocos e simbióticos.
- Probióticos: microrganismos vivos, administrados em quantidades adequadas, que conferem benefícios à saúde do hospedeiro”. Bom vocês já sabem quem são os hospedeiros.
- Prebióticos: são carboidratos não-digeríveis, que afetam beneficamente o hospedeiro, por estimularem seletivamente a proliferação e/ou atividade de populações de bactérias desejáveis no cólon.
- Simbiótico: alimento no qual os probiótiocos e prebiótiocos são combinados.
“Nunca nem viu”?
Engano seu.

Pães e conservas, alimentos processados.
São os iogurtes, conservas de legumes, líquidos fermentados com kefir, Kombuchá, missô, kinch entre outros.
Funciona?
Os céticos dirão que é um novo modismo, mais um super alimento que vem para criar novas necessidades que alimentam um novo milionário mercado de produtos.
Não estão errados em serem céticos.
“o desenvolvimento terapêutico dos probióticos foi severamente prejudicado por uma grande quantidade de informações amplamente anedotas, apresentando benefícios clínicos, contrabalançados por uma escassez de estudos clínicos bem controlados e ainda exacerbados por uma deficiência na disponibilidade de sistemas preditivos confiáveis de triagem in vivo e in vitro”. 5
Nesse sentido o estudo conduzido pelo Dr Nanda Kumar e publicado em 2008 no Journal of Gastroenterology and Hepatology foi mais do que bem recebido pois teve como objetivo verificar “se a administração prévia de lactobacilos e bifidobactérias probióticas evitaria doenças e alteraria a flora intestinal” em camundongos de laboratório nos quais foi induzido um processo de colite.
O resultado?
“Conclusão: A administração prévia de bactérias probióticas reduziu a inflamação da mucosa e danos na colite induzida por DSS. Colite DSS foi associada com mudanças significativas na flora bacteriana anaeróbia fecal e estas alterações foram moduladas pela administração de bactérias probióticas.” 6
Então cientificamente, e conclusivamente, consumir alimentos ricos em probióticos e prebióticos podem levar a um equilíbrio entre você e seus, até agora, desconhecidos hóspedes.
Se nada disso funcionar você pode tentar um “transplante de fezes”… isso mesmo.
Essa técnica já está sendo testada desde o ano passado para tratar a doença de Crohn e obesidade. Transplante de fezes é testado contra a obesidade. PHILLIPPE WATANABE
Se você ainda está curioso e quer se aprofundar nos diversos aspectos de sua saúde que podem ser afetados por essa “guerra entre seus hóspedes” consulte a lista de referências bibliográficas no final desse artigo e utilize a tradução automática do Google se você, como eu, não tiver um domínio da língua inglesa que dê conta disso tudo.
A quantidade, a qualidade e a seriedade das informações é a razão de ser de uma ferramenta como a internet.
Dieta, a microbiota intestinal e a saúde imunológica no envelhecimento
Um última informação, prometo.
A mudança nos hábitos alimentares é para sempre e o consumo de alimentos ricos em probióticos e afins, diário.
Espero ter sido útil.
P.S: Sim, logo teremos receitas, muitas receitas.
[…] A respeito das últimas descobertas sobre a microbiota humana leia MICROBIOTA. VOCÊ É O QUE COME SIM, MAS O QUE ALIMENTA TAMBÉM […]